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Mãe de atirador de Belford Roxo foi candidata a vereadora: ‘Ele era um menino adorável’, lamenta ela.

Foi a própria mãe do atirador que executou Igor de Oliveira Falcão em plena luz do dia, em Belford Roxo, que afirmou à Polícia Civil que seu filho foi o autor do crime. Simone Pereira Pojo foi à 54ª DP (Belford Roxo) e reconheceu Douglas Idael Pereira Ramos nas imagens divulgadas pelo EXTRA na quinta-feira. Em depoimento, ela afirmou que o filho é “uma pessoa adorável”, que, entretanto, tinha “raiva da marginalidade”.


Douglas e Simone moravam juntos, nas proximidades do local do crime, na Estrada Plínio Casado, no bairro da Prata. A mãe, inclusive, tinha aspirações políticas na região: em 2008, ela se candidatou, pelo PSB, a vereadora em Belford Roxo, com o nome Ciganinha da Prata. Na ocasião, com 142 votos, não conseguiu se eleger. Em sua ficha no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), consta que a mulher declarou renda de R$ 100 e era vendedora de comércio varejista e atacadista.

E era justamente para comerciantes da região que Douglas prestava serviço, segundo relato de pelo menos outras cinco testemunhas à delegacia. As pessoas não sabiam se Douglas cobrava pelo serviço ou se os estabelecimentos, de fato, pagavam pela segurança. No entanto, uma delas chegou a afirmar que Douglas — que aparece nas imagens saltando de uma moto e, em menos de quatro segundos, atira quatro vezes contra o jovem — “combatia o consumo e o tráfico de drogas na região”.

A Justiça decretou a prisão preventiva de Douglas na madrugada de sexta-feira. O acusado está foragido. Um mês antes da execução, em 17 de dezembro, ele foi condenado por porte de arma a dois anos de prisão. No entanto, a reclusão foi substituída pelas penas de “prestação de serviços à comunidade” e “prestação pecuniária, consistente no pagamento de um salário mínimo a uma entidade pública ou privada”. O delegado Luiz Henrique Guimarães, que investiga o crime, criticou, em entrevista ao EXTRA, as leis brasileiras, que, segundo ele, terminaram por deixar livre o criminoso.


Douglas Idael Pereira Ramos teve prisão temporária pedida à
Justiça Foto: / Reprodução
— O músico John Lennon foi assassinado em 1980. Seu assassino ainda está preso. Já aqui no Brasil, a atriz Daniella Perez foi morta em 1992. Seu assassino, o também ator Guilherme de Pádua, foi condenado, preso e já está solto. Se Douglas estivesse preso, não faria essa barbaridade — disse o delegado.

Disque-Denúncia oferece R$ 2 mil por informações de Douglas Idael Pereira Ramos Foto: Divulgação

Recompensa de R$ 2 mil por foragido
O Disque-Denúncia oferece recompensa de R$ 2 mil por informações sobre o paradeiro de Douglas Idael Pereira Ramos, acusado de ter executado um jovem em Belford Roxo em 23 de janeiro. Quem tiver dados sobre a localização do acusado pode denunciar através do telefone do Disque-Denúncia (2253-1177) ou pelo Whatsapp do Portal Procurados (21 96802-1650).

Na manhã de sexta-feira, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, disse ao EXTRA que a execução de um suspeito de assalto, à luz do dia, numa das ruas mais movimentadas de Belford Roxo foi “um ato totalmente descabido”.

— Sem dúvida nenhuma, foi um absurdo — afirmou.

Sobre a certeza de impunidade com que agiu o atirador, o secretário afirmou que esta não é uma questão “somente da polícia”. De acordo com Beltrame, a discussão deve ultrapassar a presença policial nas ruas:

— Devemos questionar o Judiciário, o fato de armas entrarem pelas fronteiras, de ordens para ataques partirem dos presídios. Ainda temos o problema dos doentes do crack, e a questão de maioridade penal, que deve ser discutida também. Todos esses episódios resultam em homicídios, em cenas tristes como a de Belford Roxo.


Mais um suspeito identificado
Agentes da 54ª DP identificaram mais um dos suspeitos que aparecem nas imagens da execução divulgadas pelo EXTRA. O homem de camisa branca e descalço que ajuda um outro homem a segurar Igor de Oliveira Falcão até a chegada da moto com o executor já foi reconhecido. O delegado Luiz Henrique Guimarães vai intimar o suspeito — que, como Douglas, também é morador da área — para prestar depoimento na distrital. Ele quer saber por que o homem segurou Igor.

— Preciso saber se houve algum ajuste anterior às imagens entre eles. O vínculo entre os quatro homens precisa ser provado para que eu possa indiciar todos os quatro homens que aparecem na imagem (os dois que seguram Igor, o motorista da moto e Douglas) pelo homicídio — disse o delegado.

Nas imagens, é possível ver a bermuda branca do suspeito manchada de sangue. O laudo do corpo de Igor revela que o jovem também tem marcas de agressão na cabeça. Os responsáveis pelas lesões ainda não foram identificados.

Outro ponto ainda não esclarecido é a morte de Victor Fernandes, 18 anos, a cerca de 100 metros de Igor. Segundo testemunhas contaram ao EXTRA no local do crime, os dois jovens haviam pulado o muro de uma casa para roubar um carro antes de serem abordados pelo grupo responsável pela captura.

— Vou pedir exame balístico dos projéteis encontrados nos corpos de Igor e Victor para saber se o atirador é o mesmo. O objetivo é descobrir se, enquanto os dois seguravam Igor, o atirador matava Victor — afirmou Guimarães.

Parente da vítima diz que família não sabia como tinha acontecido a morte

O homem que matou Igor havia sido condenado por porte ilegal de arma, um mês antes do assassinato. O que você acha disso?
Acho que a Justiça é falha. Se ele tivesse sido preso após a condenação, em vez de ter tido a pena substituída por prestação de serviços, o Igor poderia estar vivo. No vídeo, ficou claro que ele pediu para se explicar. Mas, em vez disso, recebeu tiros.

A mãe do Igor assistiu ao vídeo da execução do filho?
Tentamos evitar que isso acontecesse, mas ela fez questão de assistir. Ficou em estado de choque e não conseguiu entender por que fizeram isso com ele.

Como a família reagiu ao modo como a morte ocorreu?
A gente não sabia como tinha acontecido a morte. Ficamos surpresos de saber que o Igor foi assassinado a sangue-frio, e em plena luz do dia.

O que você achou da atitude de quem postou o vídeo na internet?
Não sabemos quem postou o vídeo e provavelmente não conhecemos essa pessoa. Mas, indiretamente, quem fez isso está ajudando a fazer justiça.

A decretação da prisão do assassino traz conforto?
Neste momento, não faz diferença. Isso só acontecerá quando o assassino for preso e começar a pagar pelo que fez.

Qual é a situação da família agora?
Temos medo de que quem fez isso com Igor queira fazer mal para mais alguém da nossa família.

Alguém já foi ameaçado?
Por enquanto, não.

Alguma autoridade ofereceu ajuda para a família?
Ninguém nos ofereceu ajuda. Além disso, desde que o Igor morreu a polícia não nos chamou para prestar depoimento. A gente sabe que isso vai acontecer uma hora. Não gostaríamos de ir a Belford Roxo, temos medo. Se o depoimento fosse em outro local, fora da cidade, seria melhor.

O que a família pretender fazer daqui pra frente?
A intenção é que a mãe do Igor fique à frente de tudo. Só queremos justiça.
Fonte: Extra Online

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