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Área florestal após queimada em Maricá. Foto: Movimento Baía Viva |
Maricá já teve mais queimadas em áreas verdes em 2025 do que em 2024, Petrópolis está com índice de chuva muito baixo e Norte e Noroeste do estado ficam mais secos a cada ano, impactando na criação de animais e plantações
RIO DE JANEIRO - Em alguns locais do Rio de Janeiro não chove há quase 40 dias. Há regiões em que houve ocorrência de chuvas, mas em níveis bem abaixo do comum nessa época do ano. Essa situação está ocasionando incêndios florestais, falta de água e consequências negativas à agricultura e agropecuária.
De acordo com dados da Linha Verde do Disque Denúncia, neste ano de 2025 foram registrados 52 casos de queimadas em áreas florestais na cidade do Rio de Janeiro. O local no município com o maior número foi Jacarepaguá, que teve 10 anotações. Em todo o ano de 2024, foram 19 no bairro.
Na região metropolitana do Rio de Janeiro, Maricá já tem mais casos de queimadas em 2025 do que em todo o ano passado. São 28 contra 27 no ano anterior.
“Nos últimos meses, temos vistoriado as áreas rurais de Maricá que estão situadas no entorno de relevantes Unidades de Conservação Ambiental e é visível que os rios, córregos d´água e nascentes estão secando como resultado do agravamento dos efeitos das mudanças climáticas. A reversão deste quadro requer ações de restauração ecológica do bioma Mata Atlântica que historicamente foi o mais devastado, destruído, desmatado no país, a formação de uma Brigada Municipal de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais com equipes treinadas, e equipadas Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), com veículos e ferramentas adequadas, a capacitação dos moradores para formar Brigadas Voluntárias nos bairros e distritos e intensificar ações de educação ambiental nas escolas e comunidades.”, ressalta Sérgio Ricardo Potiguara, coordenador do Baía Viva, que é Mestre em Ciências Ambientais e Doutorando em Antropologia (PPGA/UFF).
A mesma falta de chuvas que aumenta a possibilidades de incêndios florestais provoca outro problema no estado. Um levantamento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) mostra que nos dois primeiros meses do ano, o número de cidades do Rio em estágio de seca moderada passou de dez, em janeiro, para 35, em fevereiro. A classificação se refere a quando a falta de chuvas começa a provocar danos à agricultura e a pastagens, falta de água iminente e restrições voluntárias de uso de água, além de baixar o nível de reservatórios ou poços.
Algumas cidades do estado chamam a atenção na lista do Cemaden. Entre elas estão Angra dos Reis, Macaé, Mangaratiba e Petrópolis.
A ausência de chuvas em Angra vem causando episódios de falta de água. Durante o Carnaval, moradores do munícipio fecharam a Rodovia Rio-Santos em protesto por conta disso.
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Gado em sofrimento e Seca da Lagoa do Campelo no ano de 2015 – Fotos César Ferreira |
De acordo com a Cedae, os sistemas de abastecimento de Mangaratiba, que incluem as Unidades de Tratamento (UTs) Muriqui, Conceição de Jacareí, Serra do Piloto e Itinguçu “estão sendo afetados pela redução nos níveis dos mananciais de captação“.
Em fevereiro do ano passado, Petrópolis registrou 224 milímetros de índice pluviométricos (que é a medida da quantidade de chuva que cai em uma determinada área e período de tempo) no Pico do Couto. Esse ano, o maior número dessa medição foi de 63 milímetros, na estação Corrêas.
Nas Regiões Norte e Noroeste do Estado do Rio de Janeiro as mudanças climáticas vêm impondo índices de aridez cada vez mais altos e de precipitação de chuvas cada vez mais baixos, ameaçando colheitas inteiras e obrigando os pecuaristas a vender seus bois, ainda magros, para outros estados do país.
Ainda segundo os dados do Cemaden, o volume de chuvas que caiu nos dois primeiros meses do ano na cidade de Macaé foi metade do registrado no ano passado. Foram 96,2 milímetros em 2025 e 186,6 milímetros no mesmo período de 2024.
Estas alterações climáticas não são recentes. Estudos de especialistas no tema mostram que o Norte e Noroeste Fluminense vêm ficando cada vez mais quentes e secos ano após ano, com base em séries históricas de oito décadas. Um desses pesquisadores é José Carlos Mendonça, doutor em Produção Vegetal da Uenf. Ele faz uma alerta para produtores rurais, ambientalistas e moradores: o clima dessa grande faixa no cimo do estado do Rio mudará de subúmido seco para semiárido em dez a 15 anos, caso não sejam adotadas políticas públicas que impactem na forma de uso do solo e em outras ações sustentáveis. Na prática, muitos meses nessas cidades já são registrados como semiárido e, em alguns casos, as próprias médias de anos inteiros. Segundo dados da Coordenadoria de Defesa Civil de Campos, por exemplo, choveu no município 778,2 mm em 2016 e 774 mm em 2017, abaixo dos 800 mm estabelecidos como limite para se enquadrar como semiárido.
“Isso tudo é resultado, em grande parte, das mudanças do uso do solo e o aumento da emissão de gases, que estão alterando os grandes reguladores do clima. Como começamos a reverter isso? Numa escala maior, estão as ações que precisam ser tomadas pelos nossos políticos; num nível local, são necessárias iniciativas como recuperação de nascentes, reflorestamento de áreas devastadas etc”, defende o professor, responsável por apresentar em 2022, em uma audiência pública da Câmara dos Deputados, estudos sobre o tema feitos entre 2004 e 2018.
Fonte: Diário do Rio
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