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POLICIA INVESTIGA SE MILICIANOS ESTARIAM RETIRANDO MATERIAL DE CAMPANHA EM CASAS NA BAIXADA FLUMINENSE

Vídeos que circulam nas redes mostram homens desembarcando de uma caminhonete e percorrendo uma rua, supostamente arrancando adesivos de campanha em Nova Iguaçu — Foto: Reprodução

Após imagens serem compartilhadas nas redes sociais, Delegacia de Repressão às Ações Criminosas iniciou diligências para identificar envolvidos e apurar os fatos

BAIXADA FLUMINENSE - Uma investigação, a cargo da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco-IE), foi iniciada para apurar se milicianos estão retirando propagandas eleitorais de casas e carros em bairros de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. A apuração foi iniciada após vídeos serem compartilhados nas redes sociais nesta quarta-feira. As postagens atribuem ao grupo paramilitar as ações, que seriam acompanhadas da ordem de votar em candidatos apoiados pelos criminosos.

Em nota, a Polícia Civil informa que as "diligências estão em andamento para identificar os envolvidos e apurar os fatos". As imagens teriam sido gravadas nos bairros Engenho Pequeno e Jardim Tropical.

CLIQUE AQUI e assista o vídeo

Eleições 2024: Polícia investiga se supostos milicianos estão retirando material de campanha de casas em Nova Iguaçu

Já a Polícia Militar observa que o setor de inteligência do 20º BPM (Nova Iguaçu) está trabalhando em conjunto com a Polícia Civil para verificar a veracidade do caso. Agentes do batalhão não foram acionados para a ocorrência, informa a PM.

Dois vídeos mostram que as ações foram realizadas depois de anoitecer. Em um deles, a câmera marca o horário: 1h51 da madrugada de terça-feira, dia 27. Uma caminhonete, modelo Toro, para em uma esquina, enquanto seis homens de preto desembarcam da caçamba e do interior do veículo. De capuzes e bonés, eles se dirigem a portões de casas e arrancam supostos adesivos de campanha. Um carro, estacionado na calçada, também é alvo do grupo.

Já do alto, gravado de uma distância maior, outro vídeo mostra dois carros acompanhando um grupo de ao menos cinco homens, durante a noite.

Investidas características da milícia

Dados do Mapeamento de Confrontos Armados do Rio, elaborado pelo Instituto Fogo Cruzado em parceria com o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni / UFF), mostram que o bairro do Engenho Pequeno tem o Comando Vermelho (CV) como o grupo dominante, enquanto o Jardim Tropical não tem domínio armado definido. O levantamento mapeou a atuação de grupos armados no Rio entre 2017 e 2023.

De acordo com Carolina Grillo, coordenadora do Geni, os dois bairros têm baixa frequência de confrontos e já houve anos em que tiroteios sequer foram registrados. Mas como o mapeamento depende de denúncias ao Disque Denúncia, a informação de que não há um grupo armado dominante em determinado local pode estar ligada a uma subnotificação.

— Eu interpretaria que essas denúncias que estão surgindo parecem uma novidade em ano eleitoral, como um novo avanço da milícia por esses territórios. Seja por se tratar de um território historicamente sob domínio do CV (como no Engenho Pequeno); ou pela principal característica do avanço da milícia: sobre territórios urbanizados, que não são classificados como favelas, e que não se encontram sob domínio armado nenhum (como no Jardim Tropical) — explica Carolina.

Segundo a pesquisadora, que também é professora do departamento de Sociologia e Metodologia das Ciências Sociais da UFF, "é comum" que a milícia atue em prol de seus interesses durante uma campanha, para buscar se legitimar pela "proximidade do poder público".

— (Os milicianos) interferem no período eleitoral para que consigam eleger seus representantes e manter um poder clientelista no sentido de controlar e monopolizar até recursos públicos nos territórios que dominam — completa Carolina, que menciona serviços como asfaltamento de rua ou controle de vaga em creches como uma possível atuação.

Contratação de segurança e impedimento em alguns lugares

Entre alguns dos candidatos, Tuninho da Padaria (PT) conta que nunca aconteceu de grupos armados tentarem impedir sua entrada em determinada localidade. No entanto, segundo o postulante à prefeitura, ele "escuta falar" que isso acontece em alguns pontos, apesar de nunca ter presenciado. O candidato, apoiado pelo deputado federal e ex-prefeito de Nova Iguaçu Lindbergh Farias (PT), avalia ainda se irá contratar um segurança para acompanhá-lo durante a campanha, decisão sem relação com as supostas investidas da milícia.

— Temos um candidato que anda com 15 seguranças, outro que anda com 10. E eu tenho andado sozinho. Por isso, vou colocar pelo menos uma pessoa comigo para, se tiver uma confusão, ter alguém preparado (para proteger). É mais uma precaução — conta o candidato do PT.

Já Iza Dutra (Novo) conta que, por ser policial militar, evita determinadas áreas por entender que é um "alvo mais suscetível". Nesses locais, a maneira de chegar à população é por meio de campanha digital, ou de lideranças locais e apoiadores.

— Infelizmente as organizações criminosas avançaram de maneira estrondosa na cidade de Nova Iguaçu, com isso existem localidades que, por estarem sob domínio de facções, não posso adentrar — observa a candidata, que, apesar disso, não teve a sua campanha como alvo de criminosos.

Dudu Reina (PP), por outro lado, informa que sua equipe não passou por nenhum problema ligado a investidas de criminosos, mesma situação dos candidatos a vereador de sua coligação. Ele é apoiado pelo prefeito Rogério Lisboa.

No início deste ano, o presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Rio (TRE-RJ), desembargador Henrique Carlos de Andrade Figueira, havia anunciado que, para garantir a votação em áreas dominadas pela milícia, 50 locais de votação seriam alterados na Zona Oeste do Rio. Dados do TRE mostram que mais de um milhão de eleitores do estado do Rio terão mudanças em seus endereços de votação nas eleições deste ano: cerca de 450 localidades sofreram alguma mudança em relação ao último pleito, o que afeta mais de 1 milhão de eleitores.

Fonte: OGlobo

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