Pacientes renais crônicos podem ter atendimento prejudicado em Belford Roxo.
Funcionários de duas clínicas de hemodiálise da cidade alegam que a prefeitura não repassa verba do governo federal
A vida de cerca de 480 doentes renais crônicos está em risco em Belford Roxo. Funcionários e pacientes das duas clínicas de hemodiálise da cidade - Inbel (Instituto Nefrológico Belford Roxo) e Renalford (Hospital de Clínica Med e Nefrologia) - alegam que a prefeitura não repassa a verba do governo federal para as clínicas, que são conveniadas ao SUS.
"Faço o tratamento há cinco anos na Inbel e de uns tempos para cá as coisas estão mudando. Já começaram a cortar o nosso lanche e vão reduzir o tempo de hemodiálise da 4h para 3h, o que vai prejudicar muito os pacientes", conta mecânico Cosme Tobias, de 37 anos, que está muito assustado com a situação. "Sem o tratamento, como vamos viver?", questiona. Caso a redução de tempo aconteça, os pacientes podem vir a ter graves problemas de saúde.
Professor dos cursos de medicina e enfermagem da Uerj e da Estácio, o nefrologista Edison Souza explicou que os pacientes renais crônicos precisam fazer diálise três vezes por semana durante quatro horas. " Quem não fizer isso está sendo 'subdialisado', não faz a quantidade de horas ideal. Como consequência, vai ter o organismo intoxicado por ureia e creatinina e, no futuro, sofrerá com pressão alta e outros problemas cardíacos. A mortalidade aumenta", garantiu.
O médico afirmou que 90% das clínicas de hemodiálise no Brasil são conveniadas ao SUS. " Nessa conta estão incluídos também os hospitais universitários. Apenas 10% correspondem aos planos de saúde. Vivemos a pior crise no setor em todos os tempos. É um problema que vem se agravando há cinco anos", concluiu Edison de Souza, sempre alerta para a importância da dosagem da creatinina no sangue para evitar doenças renais e, por este motivo, conhecido como 'Dr. Edison da Creatinina'.
Segundo a enfermeira responsável da Renalford, Claudia Monteiro, essa briga com a prefeitura é antiga. "A prefeitura recebeu os repasses de setembro e outubro, mas não repassou às clínicas até agora e vai acumular mais o repasse de novembro", explica Claudia. A falta do repasse faz os administradores se desdobrarem para não prejudicar o atendimento. Claudia conta que estão cortando o lanche, diminuindo o número de aparelhos de ar-condicionado ligados, atrasando pagamentos de funcionários, devendo a vários bancos e até a conta de luz está atrasada.
"Nossa prioridade é o tratamento. As clínicas dos outros municípios é que estão nos ajudando a mantê-lo. Japeri, Itaboraí, São Gonçalo e Duque de Caxias estão sendo responsáveis por nos mandar o material necessário", desabafa a enfermeira, que continua: "A Fresenius Medical Care nos fornecer a solução de diálise, o produto mais caro, porém a nossa dívida com eles está enorme e na semana passada nos informaram que não seria mais possível enviar a solução".
Presidente da Associação dos Renais e Transplantados do Estado do Rio de Janeiro (Adreterj), Gilson Nascimento destaca que é preciso manter contato com o estado para obrigar o município a pagar. "As clínicas precisam se pronunciar, pressionar, pois a situação prejudica os pacientes".
A Secretaria de Saúde de Belford Roxo informou que houve atraso no envio dos repasses pelo Governo Federal e que o município só recebeu a verba do SUS na sexta-feira. Com isso, foi acordado que o pagamento dos conveniados começaria a ser efetuado a partir do dia 18, visando a regularização dos serviços prestados por estas clínicas o mais breve possível.
O Ministério da Saúde emitiu nota esclarecendo que entre 2010 e 2015 os valores para nefrologia cresceram 35,2% em todo Brasil, passando de R$ 1,9 bilhão para R$ 2,2 bilhões. Especificamente para o estado do Rio de Janeiro, entre janeiro e outubro do ano passado foram repassados R$ 220 milhões, totalizando R$ 1,1 milhão para procedimentos relacionados à nefrologia, sendo R$ 1 milhão para o custeio de sessões de hemodiálise.
“ É importante destacar que a nefrologia é financiada com recursos do Fundo de Ações Estratégicas e Compensação (FAEC), valor extra enviado para pasta para auxiliar no custeio dos serviços e incentivar um atendimento de maior qualidade à população. O município de Belford Roxo recebeu R$ 65,4 milhões em 2014, e R$ 68,8 milhões em 2015”, diz a nota do Ministério.
Matéria da estagiária Marcelle Abreu
Fonte: O DIA
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