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CONHEÇA OS CANDIDATOS MILIONÁRIOS DA BAIXADA FLUMINENSE

Clébio Jacaré e Netinho Reis possuem os maiores patrimônios entre candidatos no Rio.
Foto: Reprodução

Os milionários da Baixada: candidatos a prefeito mais ricos de todo o estado do Rio vêm da região; veja quem são

BAIXADA FLUMINENSE - Quase 70% do montante está concentrada nas mãos de dois candidatos, em contraste com a falta de recursos e carências na região. Clébio Jacaré (União Brasil), o mais rico entre os postulantes, tem mais de R$ 4 milhões de dinheiro em espécie declarados

Os candidatos às prefeituras da Baixada Fluminense nas eleições municipais de 2024 somam mais de R$ 140 milhões em bens declarados. Do montante total, 67,6% se concentram nas mãos de somente dois candidatos: Clébio Jacaré (União Brasil), candidato em Nova Iguaçu (RJ), e Netinho Reis (MDB), candidato em Duque de Caxias (RJ). Os dados foram apurados a partir de informações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), fornecidas pelos próprios postulantes.

Jacaré e Reis possuem R$ 49.627.070,13 e R$ 46.403.037,76, respectivamente, e são os concorrentes mais ricos entre todos os postulantes a prefeituras no estado do Rio. A maior parte do patrimônio do candidato Jacaré, de Nova Iguaçu, está concentrada em "Direito de crédito", o que se refere aos recebíveis que uma empresa irá embolsar futuramente, além de cerca de R$ 16 milhões em imóveis e quotas em empresas. Ele também dispõe de R$ 4,2 milhões de dinheiro em espécie e outros R$ 98.695,23 em moeda estrangeira.



Clébio Lopes Jacaré (União Brasil) é um dos candidatos mais ricos do 
Brasil — Foto: Reprodução/Instagram

Já Netinho Reis tem uma grande parte o do seus bens depositada em aplicações em renda fixa e fundos de investimento. O candidato de Duque de Caxias também declarou ter R$ 1,25 milhão na empresa Titanium Participações Ltda. — que tem como principal atividade o transporte rodoviário de produtos perigosos — e outros R$ 90 mil na R J Participações, que se concentra na intermediação e agenciamento de serviços e negócios em geral, exceto imobiliários.

Além deles, Aluisio Gama (PSB) — que já foi prefeito de Nova Iguaçu entre 1989 e 1992, presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e chegou a ser preso em 2017, em operação contra esquema de desvio de verbas públicas — é o terceiro postulante mais rico da região, com um total de R$ 11.276.793,04. Seus bens estão concentrados em imóveis e crédito de empréstimos.

Aluisio Gama (PSB) e Netinho Reis (MDB) — Foto: Reprodução/Instagram

Os patrimônios do ex-deputado federal Ricardo da Karol (PL) e de Abraãozinho (PL) — atual prefeito de Nilópolis (RJ) e um dos herdeiros do clã do bicheiro Anísio Abraão David, de quem é sobrinho — vêm logo em seguida, com R$ 5,6 milhões e R$ 4,5 milhões, respectivamente.

Ao todo, 14 candidatos a prefeituras na região declararam ter mais de R$ 1 milhão em bens, sendo quatro do União Brasil, três do PL, dois do MDB, dois do Agir, um do PT, um do PV, um da REDE e um do PSB.

Salto em patrimônios

O aumento relevante no patrimônio entre as eleições de alguns candidatos também chama a atenção. Jacaré registrou R$ 15,9 milhões em 2022, quando concorreu como deputado federal no Rio de Janeiro. Em comparação ao patrimônio atual, houve um aumento de 183,4%, considerando a correção de valores do Banco Central (Bacen).

No site Divulgação de Candidaturas e Contas Eleitorais, do TSE, Andrezinho Ceciliano (PT), deputado estadual pelo RJ e que disputa a prefeitura de Paracambi, consta com patrimônio de R$ 1.278.073,78, incluindo R$ 90 mil em espécie, R$ 29.350 em joias e pouco mais de R$ 1 milhão em um apartamento. O valor total representa um aumento de 1.971,9% em relação às eleições de 2022, quando registrou um total de R$ 56.764,67 — montante que é corrigido para R$ 61.686,33, de acordo com o Bacen.

Procurada pela reportagem, a assessoria de Andrezinho Ceciliano esclareceu que pediu a retificação do valor informado ao TSE, pois o apartamento declarado — localizado na Barra da Tijuca — em 2024 está, na verdade, sendo financiado. Segundo a equipe do candidato, ainda resta um total de R$ 936.619,63 a ser quitado.

“Retirado esse valor, você verá que o aumento do patrimônio do deputado é totalmente compatível com o total de rendimentos, no valor de R$ 368.512,41 anuais, provenientes do seu salário como deputado estadual”, disse a assessoria.

Renato Cozzolino (PP) e Andrezinho Ceciliano (PT) — Foto: Reprodução/Instagram

Renato Cozzolino, atual prefeito de Magé e candidato à reeleição, acumula patrimônio de R$ 1.006.042,63, de acordo com declaração ao TSE para as eleições deste ano. O valor é 208,2% maior que o montante registrado em 2020, quando também concorria ao pleito na cidade.

Por meio da assessoria, o candidato afirmou que o aumento do seu patrimônio se origina na "atividade empresarial que o prefeito exerce paralelamente à gestão da prefeitura". A equipe também ressaltou que o lucro advindo das empresas de Cozzolino "foi distribuído das empresas pessoais para a conta particular do prefeito".

Os 'sem bens'

Do outro lado da moeda, alguns candidatos a prefeito na Baixada Fluminense declararam não possuir bens. Entre eles, está o sobrinho de Waguinho (Republicanos), atual prefeito de Belford Roxo, Matheus Carneiro (Republicanos) — que irá estampar o nome "Matheus do Waguinho" nas urnas em sua primeira eleição. Em comparação, seu tio havia declarado R$ 1,15 milhão no pleito de 2020.


Marcos Muller (União Brasil), candidato à prefeitura de São João de Meriti e ex-deputado estadual, também não declarou bens para estas eleições. Entretanto, em 2022, o postulante havia registrado patrimônio de R$ 1,4 milhão, sendo R$ 100 mil em dinheiro em espécie e R$ 1,3 milhão em um apartamento. Questionado sobre a mudança relevante no patrimônio, o candidato afirmou que "é possível que o partido tenha cometido um erro ao submeter as informações".

A equipe do candidato também disponibilizou fotos da Declaração de Imposto de Renda Federal (DIRPF) de Muller, em que consta um total de bens e direitos de R$ 1,3 milhão, valor próximo ao declarado em 2022.

Marcos Muller (União Brasil), candidato à prefeitura de São João de Meriti — Foto: Reprodução/Instagram

Não é a primeira vez que ocorrem erros nas declarações de bens nestas eleições. A candidata à prefeitura de São Paulo, Tabata Amaral (PSB), havia registrado à Justiça Eleitoral o mesmo patrimônio que em 2022 e retificou os valores posteriormente.

Outro candidato, desta vez Antonio Tossin Gomes (MDB), que concorre a uma vaga na Câmara de Vereadores de Canoas, no Rio Grande do Sul, também teve problemas na hora do registro de patrimônio: ele declarou à Justiça Eleitoral possuir uma casa de R$ 40 trilhões. Entretanto, nesta segunda-feira seu advogado pediu a correção à Zona Eleitoral afirmando que o valor real do imóvel é de R$ 400 mil.

Casos na Justiça

Além do alto patrimônio, os candidatos abastados da Baixada também têm outra coisa em comum: boa parte enfrenta ou já enfrentou problemas com a Justiça. Jacaré já foi preso em 2022 por desvio de dinheiro público e organização criminosa. Ele nega todas as acusações e afirma ter caído em armação.

O Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (GAECO) apontou "que o esquema liderado por Jacaré arrenda informalmente prefeituras fluminenses mediante pagamento de propina a prefeitos e vereadores, e, no momento seguinte, inicia uma série de negócios escusos", de acordo com o pedido de prisão deferido pelo juiz Marcello Rubioli.

Segundo as investigações, o candidato atuava como uma espécie de prefeito paralelo e oculto em Itatiaia, e designou Fábio Alves Ramos, também preso na operação, para ser o chefe de gabinete do prefeito Imberê Moreira Alves. Assim que fecharam o negócio, Jacaré e seus parceiros providenciaram a exoneração de todo o secretariado e indicaram nomes para o seu lugar. Imberê se limitava a assinar os atos.

O caso foi arquivado pela Justiça Eleitoral em março do ano passado. Entretanto, o candidato ainda responde na esfera criminal no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ) por integrar organização criminosa. Em novembro de 2022, uma decisão do desembargador Paulo de Tarso Neves determinou que a prisão fosse substituída por medida cautelar. Com isso, o político deve comparecer mensalmente ao juízo e realizar todos os atos processuais.

O concorrente de Jacaré, Aluisio Gama, foi um dos investigados na Operação Quinto do Ouro, conduzida pela Polícia Federal (PF) e Ministério Público Federal (MPF). Ele foi preso em março 2017, junto a outros cinco conselheiros do TCE, suspeitos de integrar um sistema de propina que teria desviado até 20% de contratos com órgãos públicos para autoridades públicas. A prisão dele foi revogada pela Justiça em abril do mesmo ano.

Em Magé, Cozzolino havia sido considerado inelegível por 8 anos pelo TSE em decisão tomada em junho do ano passado. Para os ministros da Corte, Cozzolino cometeu o crime de abuso de poder político durante campanha para as eleições de 2018, quando concorria como deputado estadual no RJ.

O tribunal julgou que o atual prefeito realizou ações sociais em troca de votos. Ele terminou eleito para uma cadeira na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Cozzolino deixou o cargo para concorrer à prefeitura de Magé em 2020 e chegou a ter seu registro negado. Entretanto, conseguiu autorização para participar, através de uma liminar.

Assim que Cozzolino se consagrou prefeito, o Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou a liminar e o caso acabou voltando ao TSE, que tomou a decisão de torná-lo inelegível. A defesa recorreu e, em março deste ano, o ministro Dias Toffoli do STF reverteu a decisão do TSE, tornando Cozzolino elegível novamente.

No lado dos "sem bens", funcionários de Marcos Muller na Alerj foram citados em um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeira (Coaf), em 2018, anexado às investigações que originaram a Operação Furna da Onça.

De acordo com o documento, nomeados do gabinete do ex-deputado realizaram transações suspeitas entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017, que resultaram em um total de R$ 7,8 milhões. O gabinete de Muller foi mencionado junto aos de políticos famosos, como André Ceciliano (PT) e Flávio Bolsonaro (PL), que na época estava no PSL.

Discrepâncias com a população

Os dados de patrimônio dos candidatos na Baixada Fluminense mostram as divergências exorbitantes em relação à boa parte população da região. Apesar do acúmulo significativo de bens dos aspirantes a prefeito, os números não refletem a realidade na Baixada.

Uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), publicada em 2022, mostrou que a taxa de pobreza no arco metropolitano de Duque de Caxias chegou a 30,48%. No arco metropolitano de Nova Iguaçu este número chega a 33,24%.

Segundo os dados mais recentes do IBGE, referentes à 2022, o salário médio mensal dos trabalhadores formais de Magé é de 1,6 salário mínimo, o que a torna a cidade com a menor remuneração da Baixada Fluminense e 5ª pior no estado inteiro. Para efeito de comparação, o valor chega a quase 4 salários mínimos na capital.

Nas duas maiores cidades da região, Nova Iguaçu e Duque de Caxias, os salários médios de trabalhadores formais chega a 2 salários mínimos e 2,4 salários mínimos, respectivamente. Os valores não chegam a R$ 3.400 por mês.

Fonte: G1
*Estagiária sob a supervisão de Cibelle Brito.
Link: https://oglobo.globo.com/politica/eleicoes-2024/noticia/2024/08/19/os-milionarios-da-baixada-candidatos-a-prefeito-mais-ricos-de-todo-o-estado-do-rio-vem-da-regiao-veja-quem-sao.ghtml

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