No RJ, prefeito entra no radar da disputa ao governo
Emergente do segundo escalão da política fluminense, o prefeito de Belford Roxo e presidente do União Brasil no Rio de Janeiro, Wagner Carneiro dos Santos, o Waguinho, saiu fortalecido da disputa presidencial depois da vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mesmo sem reverter o resultado negativo para o petista em sua cidade no segundo turno.
Ao lado da mulher, a deputada federal Daniela de Souza Carneiro, a Daniela do Waguinho, mais votada no Estado, o prefeito ganhou notoriedade nacional ao bancar apoio ao petista em uma região conflagrada pelo bolsonarismo e onde os principais líderes seguiram com o presidente Jair Bolsonaro (PL) ou evitaram entrar na disputa nacional com mais vigor. No primeiro turno, Lula teve 38,9% em Belford Roxo. No segundo turno, o petista ficou com 39,8% na cidade. Já Bolsonaro cresceu bem mais, passando de 54,8% para 60,2%.
A eleição para presidente deste ano foi a primeira em que o PT venceu sem ganhar no Estado do Rio, onde foi vitorioso entre 2002 e 2014. Em Belford Roxo, o petista só ganhou 4.757 votos de uma rodada para outra.
“A gente considera uma grande vitória no Rio porque estancou a sangria. Era muito difícil virar o jogo. O bolsonarismo estava com fanatismo grande e, principalmente, pela grande quantidade de evangélicos. Se a gente não entra, a votação ia cair porque os pastores iam envolver a corrente de lavagem cerebral e as ‘fake news’, uma coisa terrível”, avalia o prefeito.
O prefeito se coloca no páreo para concorrer ao Palácio Guanabara em 2026 e diz que a mulher, reeleita com 213 mil votos, pode ocupar cargo na administração petista ou se tornar uma “força” do governo na Câmara. O União Brasil no Rio de Janeiro elegeu oito deputados estaduais e seis federais.
Evangélico e cabo eleitoral de Jair Bolsonaro (PL) em 2018, Waguinho critica a interferência religiosa na política, lança mão de termos como “fascismo” para se referir ao atual governo e comemora o retorno de Lula como uma “vitória da democracia”. Cerca de 34 quilômetros distante da capital fluminense, Belford Roxo foi destino de Lula e Bolsonaro no segundo turno. A cidade, comandada por Waguinho, de 51 anos, desde 2017, tem um dos mais baixos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do Estado. Concentra o oitavo maior eleitorado do Rio, com 338 mil aptos a votar, e é reduto dos candidatos mais votados do Estado nessas eleições. Foi no berço político que o prefeito e a primeira-dama, que chegou a ser cotada como candidata a vice do governador Cláudio Castro (PL), conversaram com o Valor, numa casa onde funciona o gabinete da parlamentar no município.
Faxineiro e, depois, servidor da Câmara municipal, Waguinho se tornou vereador em 2008. Concorreu e elegeu-se duas vezes para a Assembleia Legislativa, em 2010 e 2014, ano em que migrou para o MDB e estreitou relações com Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara e articulador do impeachment da ex-presidente Dilma (PT).
Em 2021, no segundo mandato à frente da prefeitura, desembarcou no PSL de olho no fundo eleitoral e no tempo de TV da sigla para 2022, mas sob desconfiança da ala bolsonarista que permaneceu no partido. À frente da legenda, atraiu famílias tradicionais da política fluminense, como os Cunha, Garotinho e Brazão, que concorreram às eleições deste ano pelo União Brasil, fruto da fusão do PSL com o DEM.
Aliado de petistas como o ex-prefeito de Maricá Washington Quaquá, e do presidente da Assembleia fluminense, André Ceciliano, recebeu apoio do partido na reeleição à prefeitura, em 2020, apesar de ter pedido votos para Bolsonaro durante a corrida presidencial, dois anos antes.
Hoje, no entanto, Waguinho faz coro às críticas sobre a falta de investimentos federais no Rio, argumento martelado pelo prefeito Eduardo Paes (PSD) durante a campanha. O casal alega ainda ter sofrido com um distanciamento do presidente da República, que não os recebeu, afirmam, nem para negociar o disputado apoio do clã no segundo turno.
“Fomos a Brasília porque alguns deputados ligaram dizendo que o presidente queria falar conosco. Mas quem nos recebeu por 1 minuto foi o Flávio [Bolsonaro], que de forma fria pediu a nossa ajuda em troca de melhorar o orçamento da cidade”, conta Waguinho sobre a ida a Brasília em 6 de outubro, após o primeiro turno. “Nem me parabenizou pela vitória”, complementa Daniela, que acompanhou o marido.
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