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Waguinho diz que espera ter espaço no governo Lula em 2025

No RJ, prefeito entra no radar da disputa ao governo

Emergente do segundo escalão da política fluminense, o prefeito de Belford Roxo e presidente do União Brasil no Rio de Janeiro, Wagner Carneiro dos Santos, o Waguinho, saiu fortalecido da disputa presidencial depois da vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mesmo sem reverter o resultado negativo para o petista em sua cidade no segundo turno.

Ao lado da mulher, a deputada federal Daniela de Souza Carneiro, a Daniela do Waguinho, mais votada no Estado, o prefeito ganhou notoriedade nacional ao bancar apoio ao petista em uma região conflagrada pelo bolsonarismo e onde os principais líderes seguiram com o presidente Jair Bolsonaro (PL) ou evitaram entrar na disputa nacional com mais vigor. No primeiro turno, Lula teve 38,9% em Belford Roxo. No segundo turno, o petista ficou com 39,8% na cidade. Já Bolsonaro cresceu bem mais, passando de 54,8% para 60,2%.

A eleição para presidente deste ano foi a primeira em que o PT venceu sem ganhar no Estado do Rio, onde foi vitorioso entre 2002 e 2014. Em Belford Roxo, o petista só ganhou 4.757 votos de uma rodada para outra.

“A gente considera uma grande vitória no Rio porque estancou a sangria. Era muito difícil virar o jogo. O bolsonarismo estava com fanatismo grande e, principalmente, pela grande quantidade de evangélicos. Se a gente não entra, a votação ia cair porque os pastores iam envolver a corrente de lavagem cerebral e as ‘fake news’, uma coisa terrível”, avalia o prefeito.

O prefeito se coloca no páreo para concorrer ao Palácio Guanabara em 2026 e diz que a mulher, reeleita com 213 mil votos, pode ocupar cargo na administração petista ou se tornar uma “força” do governo na Câmara. O União Brasil no Rio de Janeiro elegeu oito deputados estaduais e seis federais.

Evangélico e cabo eleitoral de Jair Bolsonaro (PL) em 2018, Waguinho critica a interferência religiosa na política, lança mão de termos como “fascismo” para se referir ao atual governo e comemora o retorno de Lula como uma “vitória da democracia”. Cerca de 34 quilômetros distante da capital fluminense, Belford Roxo foi destino de Lula e Bolsonaro no segundo turno. A cidade, comandada por Waguinho, de 51 anos, desde 2017, tem um dos mais baixos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do Estado. Concentra o oitavo maior eleitorado do Rio, com 338 mil aptos a votar, e é reduto dos candidatos mais votados do Estado nessas eleições. Foi no berço político que o prefeito e a primeira-dama, que chegou a ser cotada como candidata a vice do governador Cláudio Castro (PL), conversaram com o Valor, numa casa onde funciona o gabinete da parlamentar no município.

Faxineiro e, depois, servidor da Câmara municipal, Waguinho se tornou vereador em 2008. Concorreu e elegeu-se duas vezes para a Assembleia Legislativa, em 2010 e 2014, ano em que migrou para o MDB e estreitou relações com Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara e articulador do impeachment da ex-presidente Dilma (PT).

Em 2021, no segundo mandato à frente da prefeitura, desembarcou no PSL de olho no fundo eleitoral e no tempo de TV da sigla para 2022, mas sob desconfiança da ala bolsonarista que permaneceu no partido. À frente da legenda, atraiu famílias tradicionais da política fluminense, como os Cunha, Garotinho e Brazão, que concorreram às eleições deste ano pelo União Brasil, fruto da fusão do PSL com o DEM.

Aliado de petistas como o ex-prefeito de Maricá Washington Quaquá, e do presidente da Assembleia fluminense, André Ceciliano, recebeu apoio do partido na reeleição à prefeitura, em 2020, apesar de ter pedido votos para Bolsonaro durante a corrida presidencial, dois anos antes.

Hoje, no entanto, Waguinho faz coro às críticas sobre a falta de investimentos federais no Rio, argumento martelado pelo prefeito Eduardo Paes (PSD) durante a campanha. O casal alega ainda ter sofrido com um distanciamento do presidente da República, que não os recebeu, afirmam, nem para negociar o disputado apoio do clã no segundo turno.

“Fomos a Brasília porque alguns deputados ligaram dizendo que o presidente queria falar conosco. Mas quem nos recebeu por 1 minuto foi o Flávio [Bolsonaro], que de forma fria pediu a nossa ajuda em troca de melhorar o orçamento da cidade”, conta Waguinho sobre a ida a Brasília em 6 de outubro, após o primeiro turno. “Nem me parabenizou pela vitória”, complementa Daniela, que acompanhou o marido.

A situação, esperam, será diferente a partir de 1º de janeiro, sob o comando de Lula, com quem afirmam manter contato direto através da futura primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, que se aproximou de Daniela depois do comício na cidade, em 11 de outubro. Apesar da proximidade com o novo presidente, Waguinho afirma que não vai trocar a Baixada por Brasília até 2024.

“Quero finalizar meu mandato até 2024. Aí, sim, de 2025 para lá, eu tenho certeza que tenho um espaçozinho guardado no governo federal”, diz. Ele lembra que a mulher, reeleita, está “livre” para ocupar um cargo ou ser uma “grande força” do governo Lula na Câmara, eventualmente comandando alguma comissão. “Se a gente merecer e couber dentro do espaço deles, Daniela está à disposição”, reforça Waguinho.

Sem mandato a partir de 2025, o prefeito se coloca como nome para disputar o governo do Estado, se essa for a vontade de Lula, e acredita que Cláudio Castro vai se tornar um “grande aliado” do petista. O União integrou a aliança pela reeleição de Castro, candidato bolsonarista, e indicou o vice, Thiago Pampolha.

“Tenho compromisso muito grande com o governador, que passará a ser um grande aliado do presidente Lula. Acho que ele vai estar com Lula em 2026 e o que o presidente Lula falar, vou fazer. Meu nome está aí, é um bom nome. Estou à disposição. Se falar que não, estou à disposição também”, disse.

Com acesso aos corredores de Brasília, Waguinho garante que não vai virar as costas para os vizinhos da Baixada que, segundo ele, não tiveram “coragem” de enfrentar as mesmas pressões e represálias que ele e Daniela afirmam ter sofrido, com ataques nas redes sociais e protestos na porta de casa. Eles, contudo, não escondem mágoas do deputado estadual Márcio Canella (União Brasil), apadrinhado político que seguiu ao lado de Bolsonaro na disputa presidencial.

“Aliança política com o deputado Canella eu não tenho mais”, decretou sobre o agora desafeto, que ainda aparece ao lado do casal em várias fotos exibidas no escritório da parlamentar.

Fonte: Valor.Globo

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