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Ator Global HENRI CASTELLI retorna ao LOTE XV, onde morou quando veio para o Rio de Janeiro tentar carreira de ator



LOTE XV - Henri Castelli retorna a Caxias, onde morou quando veio para o Rio de Janeiro tentar carreira de ator 

Ler o roteiro de “Malhação: toda forma de amar” é uma experiência de “déjà-vu” para Henri Castelli e mexe com múltiplos sentidos. A sensação de “já vivi isso antes” vem ao encarnar o personagem Madureira e caminhar pela cidade cenográfica que remonta Duque de Caxias, ao ouvir diálogos da ficção que enfatizam a distância entre a cidade da Baixada Fluminense e a Zona Sul carioca... Esse longo caminho ele conhece bem. Na vida real, na década de 90, o paulista deixou São Bernardo do Campo, SP, para correr atrás de seu sonho artístico na Cidade Maravilhosa. Aos 17, o garoto do ABC não imaginava que o município onde a tia de um amigo o receberia ficava a mais de 30 quilômetros das escolas de teatro que almejava frequentar.

— Para ir de Caxias à Zona Sul, eu pegava três ônibus. Naquela época, era lá que estava concentrado tudo relacionado a teatro, TV... Antes de chegar, não sabia que ficaria tão longe, mas encarei! Quando boto uma coisa na cabeça, ninguém tira — frisa ele, hoje com 41 anos.

Em alguns meses, Henri precisou se adaptar às baldeações que milhares de caxienses repetem dia a dia, como é mostrado no folhetim. Em “Toda forma de amar”, quem mora na Baixada passa horas no trânsito até chegar em Ipanema. Em 1996, Henri foi vendedor numa loja em Botafogo e, meses depois, passou a servir mesas no Teatro Café Pequeno, no Leblon. De trás do balcão, sonhava com o dia em que estaria na frente dos holofotes. Enquanto isso, não dispensava a chance de ganhar um extra.

Foto: Luiz Brown
Henri Castelli retorna a Caxias, onde morou quando veio para o Rio de Janeiro tentar carreira de ator. Ensaio exclusivo Canal Extra.

— Comecei a trabalhar aos 13 anos, como office boy, em São Paulo, e as coisas já não eram fáceis. Eu morava entre duas favelas, num prédio em cima de uma loja de escapamento. Já conhecia essa realidade de ter que me virar. Ao chegar ao Rio, fazer bicos para levantar uma grana foi moleza, mas ganhava pouco. No café, eram R$ 60 por semana. Esse dinheiro era tudo o que eu tinha e ia embora nas passagens de ônibus — relembra no caminho de carro entre a Barra da Tijuca, onde estava hospedado num hotel cinco estrelas, e a Baixada.

Ao chegar com a equipe de reportagem à antiga casa no bairro Apolo 11, no LOTE XV, divisa entre Caxias e Belford Roxo, quem o recebe é Josi. Hoje professora de Educação Física, a caxiense é prima de Lessandro, rapaz que apresentou Henri Lincoln — Castelli é nome artístico — a sua nova família carioca, também composta por José Senra, Marisa e Raphael, vulgos Tio Zé, Tia Isa e Rapha.

Foto: Luiz Brown
— Nossa! A rua está igualzinha ao que era. Só mudaram algumas fachadas de casas — surpreende-se o ator, ao notar que seu antigo lar virou sobrado.

Henri Castelli retorna a Caxias, onde morou quando veio para o Rio de Janeiro tentar carreira de ator.

Na calçada de concreto, um grupo de ex-vizinhas e agora tietes se forma para matar a saudade. O encontro chama tanta atenção que até um homem embriagado quer participar da festa.

— Pô! Deixa eu falar com ele também! Pô, cara, você é meu fã! — confunde-se, e todos gargalham.

Depois de abraços, pedidos de fotos e atualizações sobre o paradeiro de seus antigos colegas, as ex-vizinhas entregam como foi a chegada do paulista “colírio da Capricho” às redondezas.

— Menina, ele chegou aqui com aquele cabelão grande, olhos azuis... Em poucos dias, as garotas da rua ficaram doidinhas (risos)! — solta Josi.

NX - Henri Castelli retorna a Caxias, onde morou quando veio para o Rio de Janeiro tentar carreira de ator. 

Henri, então, surpreende-se:

— Sério? Eu não sabia disso!

Outra amiga da turma, Margareth (Celestino, hoje professora de Geografia) complementa:

Ensaio exclusivo Canal Extra. Luiz Brown Foto: Luiz Brown
— Fooooi! Você não sabia?! E os meninos se doeram de ciúme, querendo saber quem é que estava despertando tanto comentário (risos)!

Agora ciente de que já era famoso mesmo sem aparecer na TV, Henri tenta puxar pela memória:

— Mas eu não fiquei com ninguém, né? É, não fiquei! Em outros tempos, talvez ficasse com a rua toda!

NX - Henri Castelli retorna a Caxias, onde morou quando veio para o Rio de Janeiro tentar carreira de ator. 

Apesar da brincadeira, Henri atualmente namora a advogada Maria Fernanda Saad. E, assim como seu personagem, Madureira, tem o sonho de ter uma família de comercial de margarina.

— Tenho certeza de que vou ser pai novamente, e vai ser de um menino. Já até escolhi o nome, mas ainda é segredo (risos). Quero viver num molde tradicional, ter filho com uma mulher com que possa dividir a criação, ficar uns dez anos juntos, pelo menos (risos). Hoje em dia parece que nada dura, né? Mas sou teimoso e vou tentar fazer dar certo. Não quero mais errar. De alguma forma, nos dois relacionamentos mais próximos a isso que tive, aprendi bastante para pôr em prática num próximo — relata o pai de Lucas Fontana, fruto de seu casamento com a modelo Isabelli Fontana, e de Maria Eduarda Despirito, do relacionamento com a jornalista Juliana Despirito.

Foto: Luiz Brown
De volta ao papo descontraído, as amigas de Henri também soltam que, apesar dos perrengues, de vez em quando ele saía com o amigo Lessandro para as noitadas:

Henri Castelli retorna a Caxias, onde morou quando veio para o Rio de Janeiro tentar carreira de ator. 

— De dia ele jogava bola na rua... À noite, ia para o shopping e para algumas baladas também.

Henri interrompe:

— Balada? A gente não tinha dinheiro! O máximo que fazíamos era dar uma volta à noite, mas sem entrar em boate nem nada!

Depois de tricotarem na calçada, o ator e Josi têm a ideia de buscar umas cervejas no depósito. Em seguida, eles e a equipe de reportagem param na Barraca da Dona Rosa. São 11h da manhã, e eles voltam com seis garrafas.

— Caxias é isso aqui, ó! Agora, sim! — vibra ele, deixando de lado os refrigerantes oferecidos: — Sabia que eu adoro cerveja bagaceira? As importadas são boas e tal, mas gosto mesmo desta aqui, e no copo americano.

Enquanto serve a galera, o ator também confidencia que em sua casa, no Morumbi (área nobre da capital paulista), tem o hábito de comer pão com mortadela e tomate. “Mas tem que ser tudo frio”, avisa. Em seguida, conta que as refeições da família caxiense davam um tempero especial aos seus dias, apesar das dificuldades amargas para se colocar no meio artístico.

NX - 23/05/2019 - Henri Castelli volta a Caxias, onde morou aos 17 anos quando tentou a carreira artística pela primeira vez 

— Quando eu chegava do trabalho, sempre tinha um prato de comida me esperando, todo montadinho, em cima do fogão. Na Zona Sul, não vivi a hospitalidade que tive na Baixada. Só que depois de chegar, quando eu ficava sozinho, no meu quartinho sem TV, pensava na vida, nos “nãos” que levava, na falta de dinheiro, na saudade... E sofria... Ficar só na dificuldade é fogo, tem que ter cabeça. Agora, estou trabalhando, ganhando relativamente bem, mas continuo com problemas. Você pode estar no melhor hotel, de frente para a praia, mas sente agonia de estar longe dos seus — afirma.

O ator viveu pouco mais de quatro meses em Caxias. Para encurtar a distância até a capital, foi morar em Realengo com uma colega da loja onde trabalhava.

— Dividíamos o aluguel, mas não éramos amigos, só conhecidos. Eu e ela brigávamos demais pelas coisas da casa. Tomava banho gelado porque não tínhamos R$ 50 para comprar a resistência do chuveiro, minhas roupas mofaram porque eu não tinha onde lavar... Passaram uns meses, e fomos expulsos do apartamento. Fiquei desesperado ao constatar que, em dois dias, eu não tinha para onde ir. O jeito foi dormir no carro, um gol que eu e minha mãe tínhamos financiado para ver se amenizava os custos com passagem. Ali estive prestes a desistir — frisa.

Henri Castelli volta a Caxias, onde morou aos 17 anos quando tentou a carreira artística pela primeira vez Foto: Luiz Brown

Ainda frequentador da Zona Sul, Henri chegou a receber oferta de ajuda de Serjão Loroza, que o convidou para morar em Madureira, e ouviu de Miguel Falabella, numa pizzaria, que um dia ia rir dos perrengues:

— Ele me viu chorando na Pizzaria Guanabara e tentou me acalmar: “Um dia você vai rir de tudo isso. Calma!”. E eu falava: “Calma, nada! Você fala isso porque você é você”. As coisas demoraram a andar. Pegava os textos na mão, me preparava para gravar, aí rolava um imprevisto e não acontecia.

Henri Castelli retorna a Caxias, onde morou quando veio para o
Rio de Janeiro tentar carreira de ator. Foto: Luiz Brown
As coisas melhoraram depois de 1998, quando “Hilda Furacão”, “Pecado capital” e “Você decide” o fizeram despontar na TV. Até que, em 2002, “Malhação” deu ao ator seu primeiro protagonista, Pedro, par de Júlia (Juliana Silveira) na trama. Sucesso absoluto!

— Recentemente, encontrei Juliana, tiramos uma foto, postamos e bombou no Instagram. Veio o triplo de comentários das que posto com meus filhos. Voltar à novela mexe com esse antigo público e ajuda a conquistar novos fãs.


As boas lembranças o levaram a pedir ao diretor artístico da atual temporada, Adriano Melo, a oportunidade de voltar ao folhetim. Desta vez, o papel de um professor de ONG que tem o objetivo de transformar jovens da Baixada em atletas se conecta com outras motivações pessoais do ator. Só que, fora da ficção, seu engajamento social se direciona para o projeto Baobá, uma pousada que reforça a gastronomia, a história e a cultura afros no pé da Serra da Barriga, em Alagoas, para onde negros escravizados rebelados fugiram durante o período de dominação portuguesa e holandesa na região.

— Lá é onde está minha Mãe Preta (Mãe Neide Oyá D’Oxum), uma mulher que se formou em Gastronomia aos 60 anos — orgulha-se: — Ela é da umbanda com catimbó do Nordeste. Os lugares que frequento são sérios, ajudam muita gente, e outras instituições dependem desse trabalho. Eu vou lá porque gosto das músicas, do atabaque, toco percussão. É um lugar onde me sinto em paz, e nada é cobrado. São só doações.

Espiritualizado, o ator conta que tem o hábito de fazer jejum de sexo e bebida alcoólica:

— No ano passado, fiquei três meses sem beber e sem sexo. Faço isso todo ano pelo menos duas vezes. Isso trabalha os chacras, tira a energia que entra e que sai. No contato com outras pessoas, não se sabe a energia que vem dali.

Consciente da essência que mantém, ele confessa que, com mais de 20 anos de carreira ininterruptos, orgulha-se dos percalços e de não ter pego atalhos:

— Tanto depois de ter começado, a pressão é maior, ainda que haja experiência. Voltar a Caxias me fez lembrar do acolhimento que tive. Usei as experiências que vivi lá para me reequilibrar.



Fonte: EXTRA

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