As insulinas especiais, ou análogas da insulina, são usadas quando o diabético não consegue o controle do açúcar no sangue com as insulinas humanas, regular e NHP. Foto: Márcio Alves |
RIO - Desde o fim do ano passado, diabéticos que dependem de insulinas especiais, ou análogas da insulina, estão sem receber a medicação na Central de Mandados Judiciais da Secretaria estadual de Saúde. Muitas famílias já se endividaram comprando os produtos desde então e, agora, já não sabem mais o que fazer. Isso porque, além das insulinas, há quatro meses começaram a faltar os insumos para quem usa bomba de infusão da substância, além de fitas para medir glicose no sangue.
— Minha filha Juliana, de 7 anos, ficou diabética com 1 um ano e meio. Há dois anos, ela usa a bomba de insulina, que conseguimos por meio de processo judicial. O controle da glicose melhorou muito. Mas, há três meses, não recebemos cateter, reservatório nem sensor, necessários para a bomba funcionar. Esses insumos custam R$ 2.500 por mês. Estamos na última caixa de cateter e, quando acabar, voltaremos para aplicação de insulina com seringa ou caneta. É um retrocesso. A falta de controle da glicose pode causar várias complicações. A situação do diabético no Rio de Janeiro é caótica — desabafa a funcionária pública Luciana Rosa dos Santos, de 51 anos, moradora do Rocha, na Zona Norte.
Sarah não consegue insulina e insumos para a bomba infusora usada pelo filho Igor, de 15 anos, na Central de Mandados da Secretaria estadual de Saúde, na Rua México Foto: Flávia Junqueira/20.04.2017 |
Mãe de Igor, de 15 anos, também diabético tipo 1, Sarah Rubia Baptista, de 44, relata os mesmos problemas:
— A última vez que retirei algum insumo para a bomba de infusão foi em abril.
No caso de Matheus, de 17 anos, diabético tipo 1, em dezembro, o governo estadual, a revelia da prescrição médica, trocou a insulina lantus (glargina) pela levemir (determir).
— Essa insulina não controla os níveis de açúcar no sangue do meu filho. Mas essa situação piorou porque não tem mais nenhum tipo de insulina especial — diz a professora Sylvia Cristina Côrtes Ribeiro, de 38 anos, referindo-se às insulinas glargina (Lantus), lispro (Humalog), asparte (Novorapid) e detemir (Levemir) glulisina (Apidra).
A Secretaria estadual de Saúde (SES) informou que as insulinas glargina, asparte, detemir, lispro e as tiras reagentes para glicose e insulina encontram-se em processo de compra. Sobre insumos para controle do diabetes (fitas de glicose, por exemplo), a SES afirmou que entrará com recurso judicial, por se tratar de uma atribuição dos municípios. “Cabe esclarecer que as prefeituras recebem recursos do Ministério da Saúde, por meio do Programa Hiperdia, para garantir esse tipo de atendimento à população”, conclui em nota.
Distribuição de insulinas especiais
Sylvia está sem receber insulinas especiais na Central de Mandados para o filho Foto: Cléber Júnior |
As insulinas humanas, regular e NHP, estão na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename) do SUS. São compradas pelo Ministério da Saúde e distribuídas em unidades básicas de saúde e farmácias populares. Já as análogas da insulina são consideradas medicamentos especiais, distribuídos em hospitais com serviço de endocrinologia para pacientes que não conseguem o controle da glicemia com as insulinas humanas. Para os diabéticos que não estão matriculados nessas unidades resta entrar na Justiça para conseguir a medicação.
Um paciente diabético não pode parar de tomar insulina. A interrupção pode levar rapidamente a cetoacidose diabética, que ocorre quando os níveis de açúcar (glicose) no sangue do paciente ficam muito altos, podendo levar ao coma e à morte. Há risco ainda de desidratação grave, distúrbios dos eletrólitos e, com o passar dos dias, a morte. O mau controle da glicemia pode também fazer a criança ter uma queda no rendimento escolar.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) as complicações do diabetes são divididas em dois grandes grupos, micro e macro vasculares. As complicações microvasculares são aquelas que causam danos aos pequenos vasos sanguíneos, como as que acometem os olhos, rins e nervos. Já as macrovasculares incluem as doenças cardíacas e o fluxo insuficiente de sangue para as extremidades do corpo, principalmente pernas.
Fonte: Flávia Junqueira/EXTRA
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