Na escola, X., de 7 anos, não conseguia copiar as lições do quadro negro e chorava bastante. Questionada pela professora, a menina mostrou uma grave queimadura na palma da mão direita. Após insistir que o ferimento fora causado por um acidente, a menina acabou admitindo, numa crise de choro, que sua mãe havia esquentado uma colher e pressionado contra sua pele. Foi quando a direção da escola, em Belford Roxo, ligou para os pais de X.
— Quando cheguei, a escola estava fechada. Encontrei minha filha na rua, com a ferida exposta. Não vi a mãe, que não respondeu ao chamado do colégio. Uma mulher, que não conheço, cuidava dela — contou o pai de X., que vive e trabalha no Centro do Rio de Janeiro.
Naquele dia, ela fez o seguinte pedido: “Não deixe a minha mãe ser presa, por favor”. Para ele, a preocupação da criança foi resultado de uma pressão psicológica da ex-mulher.
— A mãe dizia que, se ela contasse o que tinha acontecido, não seria mais mãe dela. Dizia para não chamá-la de mãe, mas pelo nome, e que ninguém da família iria querê-la. Ela alega que fez isso por causa de um furto da menina, o que não é verdade e nunca justificaria um ato como este — relata o pai.
Anteontem à noite, ele conseguiu a guarda provisória da menina. No despacho, o juiz da 15ª Vara de Família do Rio de Janeiro e a Defensoria Pública estadual afirmam que X. correria riscos se ficasse com a mãe.
‘Não entendo como ela pôde fazer isso’
Na noite de anteontem, pude conversar melhor com a minha filha. Ela me contou que a mãe costumava bater com a cabeça dela na parede diante de qualquer travessura. Falou, inclusive, que ela chegou a morder o seu nariz. Não entendo como uma mãe pode fazer isso com a própria filha. Tenho medo que ela se aproxime da criança. Às vezes, eu tentava vê-la e a mãe impedia. Creio que minha filha ainda pode relatar mais agressões.
Mãe afirma que foi um acidente
O caso foi registrado na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) de Belford Roxo como tortura. Ontem, o pai da criança e o diretor da escola foram ouvidos. Um inquérito foi instaurado para investigar o fato.
Em seu depoimento, a mãe nega a agressão e diz que a filha queimou a mão com a calda quente de um pudim. Segundo o relato, o acidente teria acontecido no dia 27 do mês passado. A mãe alegou que não levou a menina ao hospital porque não considerou o ferimento grave.
— Os médicos me disseram que a queimadura foi de segundo grau e quase atingiu os ossos — contou o pai, que está com a menina desde que foi avisado pela escola do ferimento: — Troquei minha filha de escola. Ter a guarda dela foi um grande alívio no meio de todo este sofrimento. Há uma semana que nem água eu bebo direito.
Fonte: Extra Mais Baixada
Por Bernardo Costa
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