Ao custo total de R$ 1 bilhão, a região da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, é palco da primeira obra de infraestrutura no país que leva em conta futuros impactos das mudanças climáticas. O objetivo é ampliar a calha e garantir o escoamento dos rios em local alvo de inundações cada vez mais recorrentes, com reflexos inclusive nas operações do Polo Petroquímico de Duque de Caxias. O projeto cruzou dados sobre a vida útil da obra, em torno de 50 anos, com as previsões da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a elevação do nível do mar entre 0,50 e 1 metro. "Com 726 km², a bacia hidrográfica, habitada por 2,5 milhões de pessoas próximo à Baía de Guanabara, é altamente vulnerável", adverte Paulo Canedo, coordenador do laboratório de hidrologia da COPPE, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Até o momento, a dragagem em 60 km de rios retirou 3,5 milhões de metros cúbicos de lama e lixo, além de 20 mil pneus velhos. Cerca de 2,5 mil famílias serão reassentadas. "Na busca de adaptação ao clima, foi aplicada tecnologia inédita para o cálculo de vazão dos canais em planícies de inundação", afirma Canedo, idealizador do Projeto Iguaçu, executado pelo Instituto Estadual do Meio Ambiente (Inea), com recursos iniciais de R$ 350 milhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
"Obras e investimentos atuais precisam incorporar os riscos de enchentes, ciclones, secas prolongadas em algumas regiões, chuvas mais intensas e frequentes em outras, ondas de calor e erosão costeira", recomenda José Marengo, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A prioridade do setor produtivo tem sido a mitigação via corte de carbono, que resulta em melhoria de eficiência e reputação no mercado. Mas os esforços atuais para conter gases do efeito-estufa são ainda insuficientes para livrar o planeta dos impactos. De acordo com o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), as emissões não param de crescer e tudo indica que o limite de segurança de 2º C de aquecimento será superado. "O país precisa acordar para a adaptação ao cenário do clima com visão de longo prazo, porque os custos da inércia serão altos", acrescenta Marengo.
Desastres naturais causam perdas médias de US$ 200 bilhões por ano, conforme relatório da ONU apresentado na Rio+20. Desde 2000, a soma atinge US$ 1,4 trilhão, com tendência a aumentar a partir das mudanças climáticas, especialmente nos países de economia em crescimento. Nos últimos 40 anos, a população que vive em áreas de inundação cresceu 114% e a exposta a ciclones subiu 192%. Na transição para uma nova economia, diz o documento, "o desenvolvimento sustentável nunca se realizará sem clara gestão de impactos do aquecimento global".
Pesquisa de 2010 mostra que a média de temperatura máxima deverá aumentar 4,8º C até o fim deste século, no Rio de Janeiro, que sofrerá com o avanço do mar. Serão necessárias obras para engordar praias e, em áreas baixas, a população precisará ser remanejada. "O desafio não é tecnológico, mas de gestão", diz Márcio Dertoni, coordenador do programa de emergência da Petrobras, que criou a Comissão de Continuidade do Negócio, tendo as alterações climáticas como uma das preocupações.
Fonte: Jornal Valor Econômico
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