Sidney trabalhou por um ano na limpeza e organização do arquivo da Feuduc. Em troca, ganhou bolsa.
Foto: Cléber Júnior / Extra
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O frio na barriga que o professor assistente Sidney Silva dos Santos sentiu ao lecionar pela primeira vez para uma turma de graduação em História, há três anos, foi quase o mesmo que o então menino Sidinho sentia quando saía de casa, na Favela da Mangueirinha, em Duque de Caxias. Aos 8 anos, ele tinha a responsabilidade de vender todos os 40 pedaços de cuscuz para ajudar no sustento da casa.
Um hiato de 31 anos separou a infância — interrompida pelo trabalho — do sonho de ser um docente. Mas Sidney, hoje com 42, nunca desistiu. Com 12 , começou a trabalhar numa banca de jornal. Acordava às 3h30 e trabalhava até as 14h. Ia para a escola, mas não aguentava e dormia na sala. Aos 14, quando foi contratado por uma fábrica de plástico, abandonou a escola.
— Minha função era catar material reciclável na rampa do Lixão do Jardim Gramacho. Separava o material para a fábrica e uma parte para mim: os livros, revistas, jornais. Isso, desde cedo. No intervalo da venda de doces, ainda criança, eu lia gibis. Lia de tudo, sempre fui apaixonado por histórias — lembra Sidney, que seguiu trabalhando em fábrica, distribuidora, como segurança e até guarda municipal.
A vontade de voltar a estudar falou mais alto na fase adulta. Com 29 anos, concluiu os Ensinos Fundamental e Médio à distância. Em 2006, soube da graduação na Fundação Educacional de Duque de Caxias (Feuduc):
— Eu fazia alguns trabalhos em ótica e bicos como segurança. Então, me matriculei, na esperança de uma bolsa.
Sidney recorda a época em que trabalhou no arquivo da
Feuduc, onde leciona hoje Foto: Cléber Júnior / Extra
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A paixão pelo curso de História era cada vez maior, mas a bolsa não veio. As dificuldades continuaram, e Sidney precisou interromper os estudos mais uma vez por mais de um ano. A solução foi um projeto criado por um professor dentro da faculdade. Ele contribuiria com a limpeza da instituição e ficaria isento das mensalidades.
— O professor Inácio Ferreira coordenou um grupo de organização e limpeza dos arquivos. Ele sabia da minha história e me selecionou. Estava no 4º período, e foi um ano de projeto. Depois, renegociei o final do curso e consegui concluir. Fui o primeiro na família a ter graduação - conta.
Desde então, Sidney nunca mais parou. Emendou a pós-graduação na Feuduc em Ciências Sociais e, em troca, começou a atuar como professor assistente. Hoje, é aluno do mestrado em Comunicação, Educação e Cultura na Faculdade de Educação da Baixada Fluminense (FEBF- Uerj). Continua como professor na sua faculdade de origem e, como bom historiador que é, orgulha-se de contar sua trajetória:
— Acredito que contar essa história incentiva outras pessoas e mostra que é possível realizar um sonho. Porque todo professor acredita na educação.
Fonte: Cíntia Cruz/EXTRA
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