Curso preparatório para o Enem oferece vagas gratuitas na Baixada Fluminense

Alunos do pré-vestibular Casa Quilombel, localizado em Belford Roxo — Foto: Divulgação

Iniciativa promove aprendizado sem custo e direcionado às provas de vestibular nos municípios de Belford Roxo, Mesquita, São João de Meriti e também no Rio

BAIXADA FLUMINENSE - A União de Núcleos de Educação Popular para Negras/os e Classe Trabalhadora (UNEafro) oferece 65 vagas para o curso de pré-vestibular gratuito nos municípios de Belford Roxo, Mesquita, São João de Meriti, na Baixada Fluminense. A organização possui cursos populares em todo o território nacional, e auxilia candidatos que não têm acesso aos preparatórios particulares. As inscrições podem ser feitas pelo site da instituição (www.uneafrobrasil.org).

Em Belford Roxo, as aulas acontecem na Casa Quilombel, no bairro Santa Amélia. Com dois anos de atuação, a unidade já atendeu cerca de 100 alunos. No último ano, três candidatos conquistaram aprovação. Um deles é Artur Leite Santos, de 18 anos, que, com o apoio do preparatório, passou para o curso de Engenharia Química no Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ). Ele é o segundo da família a entrar na universidade.

— Para mim foi decisivo o curso. Eu soube por uma amiga minha, que indicou. Ao longo do preparatório eu percebi que tinha mais afinidade com as matérias de engenharia, e conquistei a vaga. Fiquei muito feliz, minha família também, me apoiou muito. Eu penso em trabalhar embarcado, mas o mercado é bem abrangente. Talvez até o final do curso mude de ideia — conta o estudante do primeiro período. — O mais importante é manter a constância e não parar de estudar.

Além da Baixada Fluminense, a instituição oferece 85 vagas no município do Rio, para turmas nos núcleos de Benfica, Campo Grande, Penha, Realengo e Madureira.

No pré-vestibular, os alunos têm acesso a um aprendizado direcionado para as provas e podem contar com a ajuda dos professores e da coordenação. Eles também participam de um espaço de troca onde suas vivências são parte do aprendizado, como aulas de campo, passeios e cineclubes.

— Os cursinhos populares são muito importantes para os jovens que querem iniciar sua vida acadêmica. Os jovens do território precisam muito trabalhar para ajudar em casa. Então, estudar após o Ensino Médio se torna secundário. O mercado de trabalho não os estimula a continuar o aprendizado, somado a isso, há a falta de mobilidade e a distância dos centros de trabalho — comenta Vanessa Vicente, coordenadora do Pré-Vestibular Casa Quilombel.

A UNEafro Brasil é uma iniciativa do Projeto SETA, cujo objetivo é transformar a rede pública escolar brasileira em um ecossistema de qualidade social antirracista. A organização possui 32 núcleos de cursinhos populares em todo o território nacional e a modalidade de preparatório à distância.

Desigualdade no percurso

Na última edição do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), dos mais de 3 milhões de participantes, somente 12 tiraram a nota máxima na redação, que teve como tema os “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”. Desses, apenas uma aluna é de escola pública. Para Ana Paula Brandão, Gestora do Projeto SETA, a desigualdade é uma das explicações para a ausência de alunos de escolas públicas em listas como as de notas máximas na redação.

— Não estamos falando de capacidade, mas, sim, de orçamento, de planejamento e de vontade política. Os estados precisam investir mais na formação continuada de seus professores, na construção de um plano político pedagógico mais dialogado com a sua comunidade escolar, no desenvolvimento de uma cultura escolar inclusiva, participativa e democrática — comenta.

De acordo com Luciana Ribeiro, Especialista em Educação do SETA, os resultados, do ponto de vista do campo da educação, fazem parte de um conjunto de ações sistêmicas que contribuem na qualidade educacional de crianças e jovens, sobretudo indígenas, negros e quilombolas, e a ausência da implementação de uma educação antirracista é um destes fatores.

Fonte: EXTRA