Inocentes de Belford Roxo enfrenta contratempos, tem desfile conturbado e estoura o tempo na avenida
março 02, 2025
Comissão de frente desfalcada compromete a apresentação, mas casal de mestre-sala e porta-bandeira se destaca
CARNAVAL 2025 - A Inocentes de Belford Roxo foi a terceira escola a desfilar no primeiro dia da Série Ouro e enfrentou dificuldades ao longo de sua passagem pela avenida. O principal problema ocorreu com o tripé da comissão de frente, que quebrou e não pôde entrar, comprometendo a apresentação. Além disso, a evolução da escola foi irregular, resultando em um estouro de um minuto no tempo regulamentar. Apesar dos contratempos, os destaques ficaram por conta da reedição do enredo de 2008 da própria agremiação e da performance do casal de mestre-sala e porta-bandeira, Matheus Machado e Jaçanã Ribeiro, que desempenharam suas funções com grande desenvoltura.
Desfile Completo da Inocentes de Belford Roxo Carnaval 2025
A Caçulinha da Baixada levou para a avenida a reedição do enredo “Ewe, a cura vem da floresta”, que aborda o conhecimento ancestral da cura por meio das folhas. O tema foi desenvolvido pelo carnavalesco Cristiano Bara, que na versão original, em 2008, atuou como assistente de Jorge Caribé. A escola encerrou sua apresentação com um tempo total de 56 minutos.
Comissão de Frente
Coreografada por Juliana Frathane, a comissão de frente da Inocentes enfrentou problemas ao entrar na avenida, o tripé “O Espírito das Florestas” que deveria ser uma peça central da apresentação não entrou e comprometeu todo desenvolvimento da coreografia. A comissão representou um grande ritual, onde era evocado o espírito da floresta, representado pelas folhas dos orixás no corpo dos bailarinos, provocados por uma mãe de santo. No total foram 15 componentes, sendo 11 mulheres e quatro homens. Por conta do problema inicial, toda a encenação ficou incompleta, o que dificultou o entendimento da mesma.
Mestre-sala e Porta-bandeira
O primeiro casal, Matheus Machado e Jaçanã Ribeiro, mostrou que os anos de companheirismo têm aprimorado sua dança, provando que a união entre juventude e experiência é um grande acerto. A dupla representou reis e rainhas africanos que evocavam Ossain para cuidar dos males do corpo e da alma de seu povo. Com uma dança clássica, ambos entregaram apresentações de alto nível. Apesar do vento intenso na avenida, Jaçanã soube contornar a situação com maestria. A bandeira, visivelmente molhada, ficou mais pesada, mas menos suscetível a falhas. Vale destacar também a desenvoltura de Matheus, que conduziu sua porta-bandeira de forma exemplar.
Enredo
Há 17 anos, a Inocentes de Belford Roxo levou para avenida, o enredo que mostrou o poder da cura das doenças, através das plantas e a necessidade de preservarmos as nossas florestas, temas que até hoje são atuais e discutidos em todo mundo. Dessa vez, o enredo “Ewe, a cura vem da floresta” foi desenvolvido pelo carnavalesco Cristiano Bara.
A narrativa do desfile foi dividida em três setores, sendo eles: “Herança ancestral africana”, onde foi mostrado a rica flora africana e as curas proporcionadas pelas folhas. Iniciou com a sabedoria ancestral e a figura do Babá Egun, representando os espíritos ancestrais que guia a jornada de saúde e cura. No segundo “A cura pela fé”, foi discutido a cura através da fé. E no último “Esperança de cura”, a preservação da natureza e a sabedoria transmitida pelo samba ganharam destaque. A proposta ficou clara, apesar de em alguns momentos soar repetitiva.
Alegorias e Adereços
A Inocentes levou para a avenida três alegorias, sendo o abre-alas a “Floresta africana e o legado de Ossain”, o carro foi um tributo à união e à sabedoria compartilhada pelos orixás, ele passou pela avenida sem problemas estéticos, vale destacar a imponência das esculturas de Xangô, Iansã e Ossain. A segunda alegoria representou “A cura através da fé e do conhecimento” e foi predominantemente forrado com palha, pertinente ao enredo e a proposta do mesmo. Já a última alegoria “União da sabedoria ancestral com a ciência” passou com falhas de acabamento na escultura principal, o entendimento do mesmo também não se fez claro.
Fantasias
O conjunto de fantasias foi irregular, no total, o carnavalesco Cristiano Bara levou para a avenida 20 alas, apesar da fácil leitura, houve discrepância entre elas, enquanto algumas estavam volumosas e com materiais ricos, como a ala das baianas “Mães com conhecimento das folhas”, ala oito, “Divindade Cabocla” e ala nove, “Ayahusasca – o olho que tudo vê”. Outras passaram de forma simples e com pouca carnavalização, como na ala 12, “Coletores de Ervas” e ala 17, “Produção de cosméticos”.
Harmonia
A parte musical da escola foi um dos pontos altos do desfile, a dupla formada por Daniel Silva e Thiago Brito se mostrou um acerto, o entrosamento deles foi fundamental para que a agremiação tivesse um bom desempenho musical, o mesmo vale para a bateria “Cadência da Baixada”, comandada pelo mestre Washington Paz, que realizou diversas paradinhas ao longo do desfile. Porém, apesar desses pontos, a comunidade deixou a desejar, em alguns momentos o canto dos componentes era imperceptível, tendo melhora significativa durante os refrões principais.
Samba-Enredo
A reedição de “Ewe” teve o samba atualizado em algumas partes, em relação a 2008, composto por Claudio Russo, Nino do Milênio, Carlinhos do Cavaco e Tem Tem Júnior, o samba passou pela avenida de forma linear, o fato dos desfilantes já conhecerem a obra poderia facilitar o seu desempenho, porém, muitas alas não cantaram com a empolgação esperada, sendo uma passagem apenas correta da obra pela avenida. Os refrões foram o ponto alto do samba, tanto “Da negra mãe, não só Ossaim”, e “O meu coração é Inocentes”, além da cabeça do mesmo, “Ewe, a cura vem da floresta”, e um pouco de sua primeira parte, como “Ossaim, o protetor do poder de curar/Na fé nagô, o orixá”.
Evolução
Por conta do problema com o tripé da comissão de frente, a Inocentes atrasou o início de seu desfile. Mesmo após o cronômetro começar a contagem, o presidente Reginaldo Gomes ainda realizava seu discurso. Ao longo do desfile, a evolução foi coesa, sem grandes atropelos, e os componentes desfilaram de forma solta. No entanto, no encerramento, houve uma correria que resultou em um atraso de um minuto além do tempo regulamentar. A escola optou por inovar ao posicionar a bateria no setor de abertura, logo à frente do carro abre-alas. No entanto, a iniciativa não teve o efeito esperado e não contribuiu para uma evolução mais fluida.
Outros Destaques
O desfile também foi marcado por momentos especiais, dentre eles a presença de Mestre Marcão, comandante da bateria da Paraíso do Tuiuti entre os diretores da bateria da “Cadência da Baixada”. Um momento inusitado ocorreu durante o esquenta, quando cantaram o samba exaltação da Mangueira, o que deixou o público surpreso. A presença da passista Alessandra dos Santos, conhecida como “Barbie do Samba” no final do desfile foi emocionante, a mesma foi vítima de um erro médico e teve a amputação parcial do braço esquerdo, ela levantou as arquibancadas.
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