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Abismo social marca diferenças entre 21 cidades do Grande Rio. Contrastes de desigualdades é gritante.

Morador de Niterói tem renda cinco vezes maior que o de Japeri, que é de apenas R$ 578
Apenas 86 quilômetros separam duas realidades muito diferentes. Enquanto Japeri tem a pior renda média por pessoa da Região Metropolitana do Rio, de R$578, Niterói tem a melhor, de R$ 2.750. Já a expectativa de vida de Japeri é a quarta mais baixa da região, com 72,6 anos; a de Niterói, novamente superior, é de 76,2.

Os números não são mera coincidência. Pesquisa da ONG Casa Fluminense mostra que a idade da morte está intimamente relacionada com o valor da renda. No estudo, os municípios da chamada ‘periferia metropolitana’, como Tanguá, Queimados e Belford Roxo, ficaram sempre com os piores índices; Niterói e Rio, com os melhores.

A pesquisa parte de resultados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) de 2013 e de valores atualizados pela inflação do Censo do IBGE de 2010. No sábado, a Casa realizará um fórum em São Gonçalo para discutir soluções com a população, no campus da Uerj.
Salário médio em Niterói é de R$ 2.750. A expectativa de vida dos niteroienses chega aos 76 anos
Foto: Banco de imagens
Para o economista e coordenador do Observatório de Estudos sobre o Estado do Rio de Janeiro, Mauro Osório, existem duas regiões metropolitanas diferentes no estado: a de Niterói, Zona Sul do Rio e Barra da Tijuca e os municípios da periferia do Rio e os do subúrbio.

“Não tem como comparar estas duas regiões. Na periferia, está tudo ruim, é de chorar. Não tem infraestrutura, nem água nem esgoto, e a Baía de Guanabara é poluída justamente por isso”, explica. Segundo o especialista, a periferia do Rio tem uma situação muito pior do que as de São Paulo e Minas Gerais.

“O descaso com a região é histórico. Vem desde quando existia o Estado da Guanabara nos anos 60. A solução, hoje, seria levar atividades produtivas para a região e fomentar empregos, como fizeram os outros estados. Os moradores desses municípios têm que vir trabalhar na cidade do Rio todos os dias”, analisa Osório, que também é doutor em Planejamento Urbano e Regional.

Coordenador de informação da Casa Fluminense, o economista Vitor Messiaen considera que a periferia metropolitana e o leste do estado têm os índices mais preocupantes. “A baixa renda conduz muitos dos outros indicadores ruins. Também devem ser levados em conta Saúde e Educação, que também serão discutidos no fórum. Para mim, este quadro decorre de uma ausência histórica de políticas públicas”, disse Messiaen.

Neste sábado, o grupo também apresentará propostas como estabelecimento de metas para a redução da pobreza, o rendimento escolar, o acesso a serviços de saúde e fomento à cultura, esporte e lazer no espaço metropolitano. Além da criação de um fundo para destinar recursos aos municípios que tiveram os piores resultados.

Moradora de Niterói considera que indicadores ainda podem melhorar

Apesar de morar em Niterói, cidade melhor conceituada no estudo da Casa Fluminense, a pesquisadora Izamara Bastos, de 37 anos, quer melhorias. Ela sabe que o município sempre fica entre os melhores índices do estado, mas acha que a qualidade de vida ainda deixa a desejar.

Segundo Izamara, áreas como segurança e transporte pioraram na cidade. “Para mim, expectativa de vida melhor não tem a ver só com um atendimento bom na saúde. O Sistema Único de Saúde pode ter tido investimentos, mas a mobilidade até cada vez pior”, ponderou a niteroiense.

Para a pesquisadora, Niterói está “sempre bem na foto”, mas tem pessoas vivendo em condições precárias e moradores de rua. “As pessoas podem ter tido melhorias salariais, mas ainda há gente morando na rua. Há uma distância entre quem está ganhando mais e não ganhando nada". 

‘Está tudo abandonado por aqui’, diz japeriense
Todos os dias, a ferroviária Conceição Rodrigues, de 53 anos, acorda às 4h30, em Japeri, onde mora, para estar às 8h no Centro do Rio. A viagem é longa, em horário de rush do trem, mas compensa, segundo ela, devido aos baixos salários e opções de trabalho em seu município. Sua única filha estudou em uma escola em Nova Iguaçu, por falta de opções na cidade. Segundo Conceição, Japeri é uma cidade que funciona “só para dormir”.

“Aqui não tem nenhuma opção para se conseguir o pão de cada dia. Japeri é muito pobre em todos os sentidos. Ontem, uma amiga minha não conseguiu se vacinar nos quatro postos da cidade porque em cada um faltava algo, como material ou funcionário. Também não tem nenhuma faculdade”, reclama. Conceição também não se assustou com os baixos índices registrados pela pesquisa da Casa Fluminense sobre o município.

“É só chegar à praça da cidade que você já leva um susto. Tudo abandonado, entregue, assim como a cidade toda. As pessoas devem sair daqui se querem um trabalho ou fazer um estudo melhor”, conta.

Uma série de reportagens sobre a cidade publicada em junho no DIA mostrou que Japeri tem nota vermelha na educação e seis bairros entre os mais pobres do estado. Há um único médico para cada 980 moradores do município. No transporte público, o cenário também é dramático e os intervalos de ônibus superam três horas.
Fonte: CONSTANÇA REZENDE/O DIA

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