12 anos após a condenação do Brasil por órgão da ONU, causada pela morte da gestante Alyne Pimentel por negligência hospitalar na Baixada, a mortalidade materna segue como um grave problema da região. Em dez municípios com mais de 80 mil habitantes, a média de 94,5 mulheres mortas por problemas na gravidez ou parto, a cada 100 mil bebês nascidos vivos, é quase cinco vezes maior que o tolerado pela Organização Mundial da Saúde (20 por mil). Se comparada com o Rio (69,7), ela é 35,5% maior. Japeri lidera o ranking, com 274,5 por mil, seguido por Mesquita (131,1).
“Somos o quarto estado com a maior quantidade absoluta de óbitos maternos, atrás de São Paulo, Minas e Bahia”, diz o economista Vitor Mihessen, frisando que o Rio melhorou cinco posições de 2011 para 2012, indo da 11ª para 15ª colocação. O estado, no entanto, ainda tem média de 79,2 mortes por mil habitantes, contra 64 por mil do Brasil, que não cumprirá a meta do milênio, como se comprometeu.
Alyne (moradora de Belford Roxo) morreu aos 28 anos, no sexto mês de gravidez, após peregrinar em busca de atendimento na Baixada.
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| Alyne morreu aos 28 anos |
Os números são ainda piores para as mulheres negras. De acordo com o Conselho Estadual de Prevenção e Controle de Morte Materna, elas morrem duas vezes mais que as brancas ou pardas. Entre as que têm menos estudo, o risco é três vezes maior. “As mulheres são tratadas com descaso. Como seres fadados a parir em sofrimento e dor. Quando são pobres e negras, como Alyne, o preconceito das equipes de saúde é maior”, diz Angela Freitas, do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher.
Segundo o Ministério da Saúde, entre 1990 a 2011 a mortalidade materna caiu 55%. O quadro, porém, segue assustador. Só no ano passado 179 grávidas morreram no estado do Rio. Para a OMS, taxas acima de 150 são consideradas muito altas.
“Não é mais aceitável que se trate a morte materna como destino das mulheres, uma simples fatalidade”, critica Beatriz Galli, da OAB.
Solução passa por diálogo entre unidades
A qualidade da assistência obstétrica nas maternidades, serviços de urgência e pré-natal poderiam evitar 90% das mortes de gestantes. A avaliação é do Ministério da Saúde. “Hoje, a gestante faz o pré-natal e não sabe onde terá o bebê. É uma loteria, que define o destino dela e da criança”, diz Beatriz Galli, que enfatiza a importância do planejamento familiar.
Na opinião de Angela Freitas, não basta o Programa Saúde da Família: é preciso que todas as unidades de saúde falem entre si e estejam interligadas. O Ministério da Saúde informou que investiu, desde 2011, mais de R$ 3,3 bilhões para oferecer assistência e planejamento familiar até o segundo ano de vida do bebê. O programa atende 2,6 milhões de gestantes.
Já a Secretaria Estadual de Saúde disse que inaugurou, nos últimos três anos, duas maternidades na Baixada: o Hospital da Mulher Heloneida Studart, em Meriti, e o Hospital da Mãe, em Mesquita — além da reabertura da maternidade Municipal Mariana Bulhões, em Nova Iguaçu.
Hipertensão é a principal causa da morte na gravidez
As complicações decorrentes do aborto, feito em sua maioria em clínicas clandestinas, são a quarta maior causa de morte materna no estado do Rio. No Brasil, a tentativa de interrupção da gestação ocupa a 5ª posição entre os motivos que levam a óbito. A maior parte das mortes de mulheres — 78% — ocorre por problemas de hipertensão, hemorragia obstétrica e infecção, principalmente entre as mulheres negras, de 10 a 49 anos.
Para a advogada Beatriz Galli, da Comissão de Bioética da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ), essas mortes poderiam ser evitadas com um pré-natal de qualidade. “Ou elas chegam sem ter ido às consultas, ou fizeram um pré-natal ruim. Logo um parto que poderia ser simples torna-se de alto risco, porque não foi tratada uma hipertensão, por exemplo”, critica. Para ela, os serviços na Baixada para gestantes de risco ainda são precários.
Fonte: O Dia
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