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Crivella sobe o tom contra Garotinho. Senador diz que fim das UPPs seria ‘medieval’ e que Lindberg pediu a Lula que não concorresse.

Candidato ao governo do Rio pelo PRB, o senador Marcelo Crivella garante que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva incentivou sua candidatura ao Palácio Guanabara. Apesar dos apelos do petista Lindberg Farias, que sonhava com Crivella como seu vice, Lula se negou a cobrar tamanho sacrifício do aliado e ex-ministro da Pesca de Dilma Rousseff, hoje um dos líderes nas pesquisas de intenção de voto . 

Para o sobrinho do bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, o também evangélico Anthony Garotinho (PR) é o principal concorrente a uma vaga no segundo turno nas eleições de outubro. Comedido e de fala pausada, Crivella aumenta o tom contra o adversário quando o assunto é segurança pública.
Para acabar com o estigma de ficar em segundo, Crivella aposta em ser mais conhecido pelo eleitor da Zona Sul e manter o apoio da BaixadaFoto: Cacau Fernandes / Agência O Dia

“O Garotinho quer acabar com as UPPs. Eu acho que acabar com a UPP é como quebrar um termômetro para tentar acabar com a febre. É medieval. A UPP é uma política extraordinária. O problema do traficante não é só vender a droga. Quem vivia no morro, vivia subjugado a regras impostas por esses bandidos. Temos é que universalizar a UPP, levar para todo o estado e aumentar o efetivo da Polícia Militar”, diz.

Seu programa de governo prevê a recolocação na ativa de policiais militares aposentados nos últimos cinco anos. Crivella alega que hoje há policiais se aposentando com apenas 48 anos. Segundo ele, seria um programa voluntário mediante remuneração complementar. “Vemos muitos policiais novos, com um ano de formado, já fazendo policiamento ostensivo. É preciso mesclar juventude e experiência.”

Recém-saído do Ministério da Pesca e exercendo pela segunda vez o mandato no Senado, Crivella tem intensificado a campanha na Baixada Fluminense e na Zona Norte do Rio. Nascido e criado em Botafogo, é justamente na Zona Sul que enfrenta a maior dificuldade em angariar votos.

Nas duas vezes que concorreu à Prefeitura do Rio (2004 e 2008), a região foi decisiva para a derrota. “Há certas coisas que demoram, que só se constroem com o tempo. Hoje, sou o candidato com maior intenção de voto na capital, 27% de acordo com a última pesquisa. As pessoas vão se identificando e surgindo afinidade”, afirma ele, que foi derrotado nas eleições para o Palácio Guanabara, em 2006.

Nos discursos de campanha, Crivella não cita a Igreja Universal e se concentra nas propostas de governo. Perguntado se é uma tática para reduzir a rejeição, o candidato desconversa: “Não pretendo me desvincular da igreja, mas não misturo política com religião.”

Assim, a maioria dos eleitores que se aproxima do político nas ruas é composta de religiosos. Fiéis da Igreja Universal, majoritariamente jovens, também fazem trabalho voluntário para a ajudar a eleger o candidato.

5 MINUTOS COM: MARCELO CRIVELLA
‘Tenho vergonha das alianças feitas’

Aos 56 anos, o senador Marcelo Crivella acredita que houve aumento de empatia com os eleitores da 
capital e aposta no voto da Baixada Fluminense para se eleger.

Lindberg pediu a Lula que o senhor retirasse sua candidatura? 
Sim. Mas o Lula me disse que respondeu a ele: “Lindberg, o Crivella tem o dobro das intenções de voto que você tem. Eu sei que ele é cristão, mas pedir um sacrifício desse tipo seria muita penitência”. Pelo contrário, o Lula me incentivou a ser candidato.

O senhor se sente abandonado pelo governo federal, já que não conseguiu fazer coligações para a campanha? 
Não me sinto abandonado, pois estou em primeiro lugar nas pesquisas e em último na rejeição. A presidenta Dilma Rousseff disse que não haveria hipótese de ela não participar do meu palanque.

Mas os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Ricardo Berzoini (Relações Institucionais) ajudaram a levar o Pros para o Garotinho. 
O ministro Aloizio Mercadante e o deputado federal Ricardo Berzoini são irrelevantes. Eles negam que tenham articulado com o Pros em favor do Garotinho. Mas eu acredito que tenham feito isso, sim. O PR chantageava o governo e ameaçava apoiar a candidatura de Aécio Neves, do PSDB. São contingências da política, mas não influenciam a nossa eleição. O Pros é um partido recém-formado, tem algum tempo de televisão, mas não tem nenhuma militância.

O senhor afirmou que hoje as coligações se formam como se fossem mercadorias compradas num ‘mercado persa’. O que os partidos com quem o senhor tentou negociar lhe pediram? 
Eu fico até com vergonha de falar sobre valores que os partidos me pediram. Se disser, vão negar e vai ser uma controvérsia inútil na Justiça. Não vale a pena. A redenção da política é o financiamento público de campanha. O financiamento privado é uma interferência direta do grande capital no destino do país. Todo o dinheiro que as empresas colocam na campanha dos candidatos depois será retirado do orçamento público com juros e correção monetária. Acredito também que os partidos que não tiverem candidato a cargo majoritário não deveriam ter tempo de televisão.

Quais as suas propostas para a Educação? 
Acho que a gente tem que partir para o horário integral. Tenho o sonho da TV Enem. No Ensino Médio as pessoas têm primeiro, segundo e terceiro ano. Eu quero ter o Canal 1, Canal 2 e Canal 3. Quem vai à aula de manhã, assiste à tarde, e vice e versa. São programas de reforço feitos pelos professores. Não há uma rede de escolas que possa oferecer horário integral para todos, mas gostaria de retomar os projetos dos Cieps.

Antes, os Cieps eram muito caros. Hoje, com as técnicas de engenharia, dá para fazer Cieps por 70%, 75 % mais baratos. Todo professor que encontro está muito desmotivado, por causa do salário, que é muito baixo, e pelo sistema usado para escolher os diretores.

E quais as propostas para a Saúde? 
É preciso acabar com a roubalheira. O problema da Saúde é de gestão. Precisamos construir mais hospitais, pois todos os nossos estão saturados. É preciso abrir leitos, sobretudo na Baixada Fluminense. Eu gostaria de pagar o melhor salário ao médico, mas gostaria também que esse médico desse dedicação exclusiva. Hoje, o estado paga muito pouco para o médico, mas ele também fica pouco tempo no hospital. Depois, vai complementar sua renda num consultório particular.

Por que as pesquisas apontam índice tão elevado de votos nulos e brancos nas eleições? 
Há um desalento do eleitor em relação à política e aos candidatos. São campanhas bilionárias, boca de urna, compra de votos e promessas não cumpridas.

Mas o senhor está entre os candidatos... 
Sim. Não me excluo da classe política. Mas, nesses 12 anos de trabalho no Senado e no Ministério da Pesca, as pessoas viram que não sou esse tipo de político.
Fonte: O Dia/PAULO CAPPELLI

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